Sobre a cantora Marina Lima
O seguinte texto, escrito por mim sobre minha irmã, Marina Lima, que está lançando um novo disco, foi publicado na quarta-feira, 1 de junho, na "Ilustrada", da Folha de São Paulo.
Arte de Marina Lima funciona como um espelho mágico
Marina é da raça das cantoras que, ao invés de interpretar as canções que cantam, fazem-se interpretar por elas. Mas não se trata simplesmente de que as canções nos revelem a psicologia da mulher que canta. As cantoras a que me refiro fazem da sua voz a intersecção da fala e do canto, da vida e da arte, do singular e do universal.
Como diz o compositor Luiz Tatit, "a voz que canta prenuncia, para além de um certo corpo vivo, [...] um corpo imortalizado em sua extensão timbrística".
A música de Marina, é, por um lado, um gesto intensamente pessoal e, por isso, precário e arriscado; mas é, por outro lado, um voo perfeccionista e impaciente com todas as vicissitudes demasiadamente humanas.
Em virtude da primeira característica, identificamo-nos com ela, mas, em virtude da segunda, a admiramos. No entanto, separá-las é ato de abstração, pois elas são indissociáveis. O todo, a arte de Marina, funciona como um espelho mágico, que nos devolve não a imagem da nossa realidade física ou psicológica, mas a força de sentimentos maravilhosos e obscuros e de promessas de felicidade há muito dormentes em nosso coração.
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