quarta-feira, 18 de maio de 2011

Werner Herzog fala de sua produção em documentários e participa de congresso em SP


Luiz Zanin, com Werner Herzog
O cineasta alemão, aos 68 anos, esteve presente, nesta última segunda-feira, 16, no Instituto Goethe, na mostra que está sendo dedicada à sua prolífica carreira documental, e cuja programação seguirá até sábado, 21 de maio. 

Nesta terça-feira, 17, ainda no Brasil, ele participou do primeiro dia de programação do 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, da revista "Cult", que acontece até a próxima sexta-feira, 20, no Sesc Vila Mariana.

Deixando transparecer o prazer de estar no Brasil, o cineasta falou de jornalismo cultural, de sua produção cinematográfica, Glauber Rocha e contou ainda inúmeras histórias sobre os bastidores de alguns de seus filmes, feitos com e de sua relação conflituosa e notória com o ator Klaus Kinski, inclusive narrada no filme “Meu Inimigo Íntimo”.

“Uma vez eu disse que ia matá-lo. A imprensa chegou a afirmar que atirei nele, mas nem estava aramado, só o ameacei”, cotou. O ator segundo ele era mais selvagem que os índios. Certa vez os nativos, que não temiam as loucuras de Kinski, chegaram a perguntar a Herzog se ele não gostaria que eles mesmos dessem fim em Klaus.

"Vou distribuir meus documentários no Brasil"
Documentários - Com uma obra oceânica, como foi frisado pelo escritor e crítico de cinema do Jornal O Estado de São Paulo, Luiz Zanim, Werner Herzog possui vários documentários ainda desconhecidos dos brasileiros. O diretor diz, porém, que está cuidando para mudar a estratégia de distribuição de seus filmes e fazer com estes cheguem aqui e não fiquem restritos aos Estados Unidos, onde ele ganhou espaço fazendo um sucesso nunca visto antes.

“Faço muitos filmes por ano. Adoro filmar, escrever, dirigir tudo que é cinema e quis fazer isso mais rapidamente, por isso deixei de produzi-los para só filmar. Mas vou retroceder e voltar ao controle da produção para melhor distribuí-los, tendo subtítulos em português e mostrá-los mais no Brasil”, disse.

Sua produção é intensa, só este ano são oito novos filmes, cinco deles devem ser entregues até agosto, revelou ontem à platéia do III Congresso de Jornalismo Cultural, formada por profissionais da área cultural, jornalistas, estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e demais interessados no segmento.

Foi uma manhã como poucas. Afinal não é todo dia que se tem oportunidade de estar de frente com o diretor de clássicos como "O Enigma de Kaspar Hauser" (1974) e “Fitzcarraldo” (1982) e ainda, de quebra, ouvir suas histórias à respeito da convivência que teve nos anos 70 com o cineasta brasileiro Glauber Rocha, o homenageado do evento este ano.

Lembranças da época em que conheceu Glauber Rocha
“Fiquei hospedado na mesma casa que o Glauber, em 1975, nos Estados Unidos. Ele falava sobre andar a pé, viajar muito, ler escrever, mas era desorganizado, deixava tudo espalhado, tinha muitos papéis escritos. 

Ele chegou a esquecer que já poderia voltar do exílio para Brasil e quando lembrou ficou muito feliz, correu pela casa, espalhando seus escritos todos pela cama, escrivaninha e perdeu milhares deles. Eu recuperei umas 150 páginas. Glauber está no meu coração e para mim, ele continua iluminando o Brasil”, disse à Paloma e Sarah Rocha filha e neta do cineasta que completa este ano 30 anos de morte. As duas também estiveram presentes à abertura do congresso.

Cult e novas tecnologias - Quando abordou o jornalismo cultural feito no mundo, hoje, Herzog disse que ficou feliz com a homenagem da Revista Cult, que também traz Glauber Rocha na capa da edição deste mês, onde há uma extensa documentação de sua obra.

“Estou impressionado com a vivacidade desta revista que possui um discurso inteligente”, elogiou e disse mais. “Há pouco ou nada como isso nos EUA. Não há crítica, vemos muitas notícias sobre celebridades e na França, bem lá há um discurso muito intelectual. É muito francês... e às vezes essa coisa é complicada para mim”, disse. E foi aplaudido pela pateia.

Filmagens na carvema no sul da França
Quanto às novas tecnologias, ele pondera, mas sabe que precisou render-se a ela para, por exemplo, filmar em 3D “Caverna dos Sonhos Esquecidos”, documentário que retrata as pinturas que datam de mais de 20 mil anos no interior da caverna de Chauvet, no sul da França. Veja o trailler.

De acordo com ele, foi necessário se utilizar desta tecnologia, pois as pinturas foram feitas em alto relevo e são de altíssima qualidade artística. 

Por este cuidado que precisava ser tomado, Herzog teve que utilizar diferentes técnicas de filmagem. Para preservar a integridade do local, apenas uma equipe, de quatro pessoas, em períodos de quatro horas puderam entrar na caverna e filmá-la. Além disso, todos precisavam usar roupas especiais e tinham movimentos restritos e muito cuidadosos.

Sobre redes sociais, como twitter e facebook, ele diz que não usa muito, prefere estar perto das pessoas e convidar seus atores para um almoço feito por ele mesmo.  "Vejo que há benefícios, mas os jovens às vezes estão em uma mesma sala se comunicando pelo twitter", espanta-se.


"Glauber não está morto. Ele está vivo, acreditem"
Brasil - Sobre o cinema nacional, Herzog disse que viu algumas coisas, pois não costuma e nem tem tempo para ver muitos filmes mesmo, diz que vê entre dois a três, por ano, com exceção do ano passado, quando viu uns 20, pois era presidente do júri da 60a edição do Festival Internacional de Berlim.

“Acredito que o cinema brasileiro esteja crescendo, principalmente por causa das facilidades que se tem hoje, você pode comprar uma câmera, filmar e editar em seu lap top. Com 10 mil dólares você faz, hoje, um longa metragem. É só trabalhar e este é o meu conselho”, disse.

Para ser um bom cineasta, segundo ele, é preciso mais ainda. “É preciso conhecer o coração do ser humano. O cinema tem esta missão de desvendar. Você tem que ser poético e fazer uma conexão direta com o público. Através da poesia e do cinema, devemos contar uma história que vá além dos textos. Por isso, voltemos a Glauber. Acreditem, ele não está morto”, finalizou, agradeceu e se despediu de todos, informando que não ficaria mais por causa dos cinco filmes que ele precisa finalizar.


Debate com editores Júlian Gorodische e Sylvia Colombo
Congresso – Herzog deixou emocionado o público que lotou o auditório do Sesc Vila Mariana. Pela parte da tarde na programação do III Congresso de Jornalismo Cultural ainda foram debatidos: “A responsabilidade do Editor” , com participação de Julián Gorodischer, editor-chefe da revista Ñ, do jornal El Clarín (Argentina) e de Sylvia Colombo, ex-editora do Caderno Ilustrada, Folha de S. Paulo, com mediação: Ivan Giannini, superintendente de comunicação social do SESC São Paulo.

Em seguida, o tema abordado foi “Os riscos e ameaças para o exercício do jornalismo cultural”, com Paulo Werneck, editor do caderno Ilustríssima, Folha de S. Paulo; Robinson Borges, editor de cultura do jornal Valor Econômico e mediação de Rodolfo Carlos Martino, coordenador de jornalismo da Universidade Metodista.

A programação do primeiro dia fechou com a palestra: “A Teoria de Lyon”, de Enrique Vila-Matas, escritor espanhol, com Paulo Roberto Pires, escritor e diretor de redação da revista Serrote.
O congresso segue até sexta-feira, 20. Veja a programação, aqui
créditos, link aqui.

(Holofote Virtual, de São Paulo/SP)

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