Sabia que a casa estava morrendo, condenada. O tempo, consumido em várias gerações, pesava como um câncer, corroendo o mármore, selando portas, deixando um rastro de ferrugem nos metais. Do vestíbulo à cozinha expandia seus domínios. Forte, a casa gemia, lançava ruídos como um animal contorcido estala as vértebras na agonia.
Até os fantasmas que outrora habitavam as zonas de penumbra, abandonavam o sítio em despedida. E à noite, no quarto recolhido, esquecia o arrastar das chinelas de Monsieur, os suspiros prolongados de Mademoiselle, o ranger da cadeira de rodas de Madame.
Incontáveis noites passara em vigília, captando sons, identificando-os, fazendo-os vizinhos e amigos por nuances que somente um ouvido enfermiço pode perceber. E no escutar noturno, a mão que se afundava no corpo em busca de prazer, que aninhava na concha o amor solitário e repetido, quedava inerte, junto à outra no peito em oração. Depois, o sono envolvia a quietude.
Até o dia em que as chinelas de Monsieur silenciaram no armário, a cadeira de Madame estacionou no fundo do corretor e os suspiros de Mademoiselle extinguiram-se na distância. Estavam sós, ele e a casa em agonia.
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