segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cultura

ESCRITA JAPONESA

Alguns críticos ocidentais, especialmente os franceses, falam da caligrafia de um quadro quando se referem ao modo de um pintor conduzir um pincel, ao traço característico do artista. Dizem que um quadro é legível quando comunica através da clareza do traço, da emoção e da sensibilidade linear. As origens desse conceito vêm da China e influenciaram o Ocidente através do Japão, país que serviu de ponte entre o Oriente e o Ocidente.
Observando de perto a pintura do Extremo-Oriente podemos ver clara a predominância da escrita como forma de expressão. Os artistas da China Antiga e do Japão escreviam textos poéticos em suas telas de seda e usavam o mesmo pincel para escrever letreiros ou cartazes. As cenas desenrolavam-se linearmente através dos grandes painéis, como se a natureza, perdendo os limites de espaço captados por nossa percepção, pudesse se desdobrar em tela panorâmica, revelando o conjunto de várias paisagens. Árvores e folhagens obedeciam a um ritmo caligráfico de intensidades variadas. As manchas sugeriam espaços indefinidos, esfumaçados, cheios de nuvens. Os poemas acompanhavam o traçado das árvores e dos rochedos, com a mesma sensibilidade do desenho. A letra integra-se à paisagem, faz parte dela, não se destaca do conjunto como elemento dissonante. A caligrafia oriental é por si mesma artística e sugeriu ao Ocidente a pintura de ação, o grafismo e o abstrato lírico.

Meu filho Maurício relata que no livro de Almerinda da Silva Lopes sobre Arte Abstrata no Brasil, (publicado pela Editora C/Arte em 2010) ela realça o pioneirismo na reaproximação com o oriente do crítico de arte Mario Pedrosa, depois de uma viagem feita ao Japão como bolsista da UNESCO, em 1959, com o prêmio que lhe foi concedido durante o congresso de críticos de arte realizado em Brasília, cidade prestes a ser inaugurada. Escreve Almerinda que Mario Pedrosa, ao retornar daquela viagem, “ redigiu o ensaio denominado: A caligrafia sino-japonesa moderna e a arte abstrata no Ocidente, na qual revelava ter encontrado respaldo para discorrer sobre a escritura informal ou lírica. E em uma seqüência de matérias publicadas no Jornal do Brasil, no mesmo ano, Pedrosa afirmava: “toda a arte chinesa, e mesmo a japonesa é iconográfica, isto é, feita em função de uma idéia ou símbolo”. Em outro texto publicado no ano seguinte, o crítico referia-se mais detalhadamente ao significado da escrituração do gesto pictórico, tomando como referência, mais uma vez, a caligrafia oriental: “Se, no Oriente, a primeira das artes, em importância e ordem cronológica de seu aparecimento foi a Escritura, ou a Caligrafia, no Ocidente a relação entre pintura e escritura foi totalmente outra. A escrita nasceu, aqui, já de um modo ou com objetivo prático, utilitário, de meio para fim.  No Oriente, a escrita, ela mesma, se transformou num fim, muito antes de a Europa apresentar-se como um continente separado e marcado por  uma civilização autônoma. Da caligrafia chinesa nasceram as pinturas chinesa e japonesa. No Ocidente, a pintura só depois de desenvolvida dava motivo ao nascimento de uma variação pictórica com algo de caligráfico ou de escritura.”

Maurício Andrés buscou naquela publicação sobre arte abstrata elementos para comentar sobre as afinidades com o modo de expressão japonês em minha própria pintura: “Ao buscar inspiração no Oriente, Maria Helena fez  trajetória inversa à de pintores japoneses que migraram para o Brasil, tais como Tomie Ohtake, Kazuo Wakabayashi, Tomoshige Kusuno, e Manabu Mabe. Seu abstracionismo lírico tem  afinidade com o Oriente, com a gramática icônica dos japoneses. Essa gramática icônica é apropriada pela propaganda e pela publicidade ao conceber logomarcas e outros signos gráficos de forte apelo comunicativo.  Não por acaso, a própria logomarca do Instituto Maria Helena Andrés, criado em 2005 para desenvolver trabalhos de educação pela arte, identifica ao mesmo tempo os traços da artista e sua assinatura tendo, ao mesmo tempo similaridade com a caligrafia oriental.”

Fotos da internet e de Maurício Andrés


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