Rosinha Queiroz
Há quase 10 anos, tive o desejo de que o folheto de poesia popular, nosso querido cordel, chegasse às mãos das crianças em seu formato e história originais. Adoro as narrativas, a sonoridade das palavras, o ritmo da leitura, e gosto, especialmente, do formato simpático em que essa literatura vem registrada. Acho um objeto digno de ser tombado como patrimônio cultural. O tempo entre o desejo e a formatação do projeto foi de quase oito anos e para a produção, mais dois anos. Os motivos? Urgência da sobrevivência que adia os projetos autorais, dúvidas em relação aos caminhos, tempo necessário para o amadurecimento, encontro da editora parceira. Imprimir o texto
Histórias
Desde sempre defini que a coleção teria três histórias, não mais. Defini também que recontaria histórias de três poetas diferentes, de folhetos que eu tinha em minha casa: Juvenal e o Dragão, de João Martins de Athayde, O Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Rezende e A Princesa Teodora, de Leandro Gomes de Barros. Quando comecei a pesquisar os cordéis mais a fundo me deparei com um problema característico do universo do cordel: a autoria. A viúva de Leandro vendeu toda obra do poeta a João Martins de Athayde, e este, por sua vez, passou a assinar os cordéis como se fosse sua a autoria dos versos. Descobri que Juvenal e o Dragão foi escrito por Leandro e que havia uma peleja pela autoria de O Pavão Misterioso entre José Camelo e João Melquíades. Mas quanto mais pesquisava, mais me encantava pela obra e pela história de vida de Leandro, e decidi que a coleção seria com histórias exclusivamente de Leandro Gomes de Barros.
A partir daí meu olhar recaiu sobre os folhetos com a estrutura do conto de fadas. Juvenal e o Dragão já era uma confirmação, mas quando reli a Donzela Teodora, apesar de adorar a história, o fato de conter preconceitos em relação às mulheres - outra característica do universo do cordel – me fez desistir do título e buscar outras possibilidades. Logo encontrei A Princesa do Reino da Pedra Fina e estava bem feliz com as escolhas. O terceiro cordel foi o mais difícil, pois em todos os textos encontrava algum tipo de inadequação: preconceitos os mais variados, violência excessiva, valorização de bebida alcoólica, eram grandes demais ou eram pequenos demais, continham a estrutura narrativa confusa. Até que consegui, na Fundação Joaquim Nabuco, ter acesso ao folheto da Garça Encantada, que eu sabia da existência mas que até então não tinha tido acesso. Apesar de ser um texto maior que os demais - e eu desejava que os três tivessem a mesma quantidade de páginas, 32 - a história me encantou e vi que daria um bom reconto. Fotografei o folheto página por página e o passo seguinte foi digitar os textos escolhidos e elaborar uma capa nova para cada história.
Pesquisa
Iniciei a pesquisa procurando entender as origens do cordel brasileiro. O folheto de poesia popular, como era chamado, vem dos violeiro e dos repentistas, e seu conteúdo se apresenta em versos, com rima e métrica próprias, enquanto os portugueses são a maioria em prosa, onde predomina o texto de teatro. E, diferentemente do cordel português, não eram originalmente vendidos pendurados em cordões, e sim em cima de lonas no meio das feiras ou no lombo dos burros. Foi na academia, depois dos anos 70, que o folheto de poesia popular passou a ser chamado de folheto de cordel.
Leandro foi, junto a outros poetas, responsável pela formatação dos folhetos. Nascido em 1865, em Pombal, Paraíba, foi morar ainda pequeno na Vila do Teixeira, berço da literatura popular nordestina, depois da morte de seu pai. A convivência com importantes poetas e uma educação erudita vinda de um tio padre, fez com que Leandro desde cedo mostrasse seu valor na literatura. Era um grande leitor e escrevia não apenas poesia popular mas também poesia erudita. Empreendedor, foi o primeiro poeta popular a imprimir seus próprios folhetos e a sustentar uma família de quatro filhos com sua arte. Inspirou Ariano Suassuna no Auto da Compadecida e teve o reconhecimento de Carlos Drummond de Andrade como o Rei da Poesia. Com os dados das pesquisas escrevi pequenos textos sobre o cordel, a xilogravura e o Leandro, que viriam no final do livro.
Texto
Quando imaginei a coleção, lá atrás, tinha pensado em contar as histórias apenas por imagens. Tentei criar a narrativa visual com o Pavão Misterioso inúmeras vezes, mas não consegui que poucas imagens, sozinhas, dessem conta de um história tão longa. Foi apenas em 2007, quando estava em Bratislava fazendo um curso de ilustração, que consegui mudar o rumo do meu pensamento. Precisava, durante o curso, produzir um Picture Book, que em princípio acreditava ser o nosso Livro de Imagem. Custei um pouco a entender que o Picture Book é um livro com texto e imagem, onde a imagem predomina, e, principalmente, é um livro onde texto e imagem se complementam de forma indissociável. Precisamos das duas linguagens para compreender a história. Só a partir desse entendimento é que pensei na possibilidade do livro conter as duas linguagens.
Meu objetivo em relação ao reconto era o de garantir que a criança pequena tivesse acesso às histórias escritas pelo Leandro de forma autônoma. Escolhi o Juvenal e o Dragão, que possui uma estrutura narrativa mais simples, para encontrar o caminho, o tom que o reconto teria e que os demais naturalmente seguiriam. Depois de ler o folheto inúmeras vezes pensei em escrever o livro ilustrado com 14 pequenos textos, como cenas de roteiro de cinema, contando a história. Naturalmente, sem a menor intenção, o reconto foi se tornando uma prosa rimada, então achei que se era para rimar, melhor fazer em forma de poesia, de cordel, e assim acabei escrevendo um cordel resumido da história de Juvenal, com 16 estrofes. Foi divertidíssimo, mas imagino que estava cheio de erros de métrica e de rima, e que Leandro deveria estar dando voltas e voltas no caixão se divertindo comigo, claro!
Depois que voltei ao meu estado de normalidade e entendi a heresia que estava cometendo, já que não tinha sentido nenhum fazer um cordel mal feito e anexar um cordel original de um mestre no mesmo livro – haja petulância! Resolvi seguir outro caminho: usar frases curtíssimas, assim como as que aparecem nas xilogravuras, como títulos – O dragão ataca, Chega a vez da princesa e por aí vai. Reescrevi toda a história dentro desse novo parâmetro. Eu estava adorando, estava achando o máximo, mas quando lia para alguém, meu ouvinte não conseguia entender a história. Tentei resolver a dificuldade de compreensão da narrativa estudando como os títulos funcionavam junto com as imagens, mas percebi que com apenas 12 pranchas a história não ficaria bem contada. Decidi criar pequenos textos que, por si só, oferecessem esse entendimento. Aí foi que realmente começou a trabalheira. Foram várias versões para recontar a história o mais sucintamente possível. Recontar em apenas 12 imagens e textos uma história que é contada em 32 páginas, e mais de 120 estrofes não foi uma tarefa fácil. Tive a sorte de ter uma leitora maravilhosa: Marília, uma amiga muito querida e paciente que leu todas as versões e deu opiniões preciosas, assim como Annete, minha editora, que revisou minuciosamente os textos, inúmeras vezes, com sugestões igualmente preciosas.
Projeto gráfico
A criação do Projeto Gráfico foi um divisor de águas. Estava profundamente envolvida nas pesquisas, no reconto, mas ainda não estava segura em relação ao caminho estético da ilustração e esse fato me angustiava profundamente. Apenas quando comecei a definir os parâmetros do projeto gráfico foi que o caminho das ilustrações passou a se delinear. O formato do livro na horizontal era necessário, pois os elementos que vinham à minha cabeça eram predominantemente horizontais, como o dragão e as paisagens; poucas cores, no máximo três, que lembrassem o tom pastel dos papéis do cordel, e que ao mesmo tempo trouxessem sobriedade e elegância, assim como contraste e complementação com o preto; orelhas grandes, para estruturar o livro e receber o folheto que viria encartado na horizontal, remetendo à imagem do folheto pendurado em cordões. Com as orelhas resultou numa grande área de contracapa que me proporcionou realizar um desejo que eu ainda não sabia como resolver.
Estudo do encarte do cordel
Leandro escreveu mais de 600 folhetos, e eu gostaria muito que uma parte de sua obra constasse como bibliografia. Ao invés de simplesmente listar os títulos das obras resolvi criar capas para 40 folhetos, o que era uma decisão insana, pois o prazo para a entrega do livro estava relativamente perto. Em princípio faria essa quantidade e repetiria as mesmas imagens nas 2ª e 3ª capas. Mas essa repetição me incomodava. Como acredito piamente que quando estamos na chuva precisamos nos molhar até a alma, resolvi fazer capa para 80 folhetos.
Por sorte consegui ter acesso a um livro publicado pela Universidade da Paraíba contendo 50 folhetos e uma lista de mais de duzentos títulos da obra de Leandro. Além desses, eu tinha mais um tanto de folhetos em minha casa. Devo ter lido em torno de 70 folhetos, ou parte deles, para poder pensar as capas. Para os dez restantes, aos quais não tive acesso ao texto, fiz as imagens pelo que o título sugeria.
No geral, as etapas foram as seguintes: li os cordéis, criei 80 arquivos já digitando os títulos com fontes e tamanhos diferentes, pesquisei as capas existentes dentre os títulos escolhidos, criei as 80 imagens a lápis, em seguida resedenhei a nanquim na mesa de luz, escaneei e montei nos arquivos correspondentes e enviei para Liz, minha leal escudeira para assunto do Photoshop. Ela tratou a imagem, completou as áreas em preto e me devolveu os arquivos, dei o acabamento final em cada um. Juntas mudamos as cores de preto e branco para as cores que teriam no livro e montamos as três contracapas com cores variadas. Uma mão-de-obra e tanto!
Ilustração
Voltando à ilustração, enquanto escrevia o reconto, eu pensava em como fazer as imagens. Uma primeira possibilidade era fazer os livros com soluções estéticas diversas, diferente um do outro. Como estava homenageando um mestre do cordel, pensei em homenagear outros mestres da imagem: Gilvan Samico e Francisco Brennand, e Ariano Suassuna, com suas iluminogravuras.
Esse pensamento me acompanhou durante a maior parte do tempo. Mas no fundo me incomodava levar o cordel original para o meu leitor e não ter a mesma postura em relação à imagem. Apesar desses caminhos pensados terem uma relação estreita com o cordel, pois foram influenciados por ele, não era a imagem que mais o caracterizava. No fundo eu sabia que precisava usar a xilogravura como caminho estético, isso era fundamental, mas eu estava resistindo desde o começo por ser uma imagem já muito usada. O caminho mais fácil seria simular a xilogravura no Photoshop, como fiz para as capas dos 80 folhetos, que é o que chamam atualmente de infoxilogravura. Mas não era isso que eu queria.
Foi um momento de muita aflição: eu tinha todo o projeto pronto na minha cabeça, os textos das pesquisas prontos, o reconto encaminhado, mas, ironicamente, não sabia como fazer as imagens. A resposta estava, literalmente, na minha frente. Quando entro na sala da minha casa, a primeira imagem que vejo é uma pequena coleção de matrizes de xilogravura que venho fazendo há anos. Cada vez que vou a Bezerros trago uma ou duas matrizes de J. Borges e de seu enteado, J. Miguel. Eu adoro essas matrizes, às vezes passo horas olhando para elas. Mas foi olhando a imagem de uma matriz de J. Borges na internet que pensei na possibilidade de usar a matriz como ilustração.
Baixei a imagem do Google, fotografei algumas das minhas matrizes e brinquei um pouco com elas, duplicando, recortando, girando e estudando a possibilidade usar a cor. Gostei muito do resultado e com isso fechei o projeto gráfico e enviei para Annete, que me ligou feliz com a definição do livro. Agora sim, eu tinha certeza que havia encontrado o caminho.
Estudo ilustração 1
Estudo ilustração 2
Mas tinha um problema: eu nunca havia feito xilogravura. Eu não sabia entalhar a madeira. Pedi para minha filha procurar na internet se estava acontecendo algum curso na cidade e ela encontrou um que já havia começado. Liguei para o responsável ansiosa e ele me tranquilizou pois não tinha fechado turma, mas que eu aguardasse que ele entraria em contato.
O contato não veio e passei a me preocupar. Se eu não conseguisse aprender a fazer xilo, teria que procurar outro caminho, e o tempo estava começando a ficar curto e as alternativas escassas. Resolvi pedir para que me dessem aula particular, e tive a sorte de encontrar dois grandes parceiros: Meca Moreno e Davi Teixeira, dois poetas que me deram aula, carinho e acolhida.
Depois de dois dias intensos de descobertas e dores musculares entendi que não daria conta de talhar as 36 imagens que ilustrariam os três livros. Precisaria de, no mínimo, mais dois anos para concluir o trabalho. Contratei os dois para talharem as imagens e já com o raciocínio da xilo passei ao stoyboard, onde estudei a sequência das imagens. Fiz todas etapas do desenho que costumo fazer: desenhar, detalhar, escanear, compor no Photoshop, imprimir e desenhar no suporte que será o original. Como eu não ia imprimir a matriz em papel, fiz o desenho sem a necessidade de inverter, como se faz na xilogravura.
Storyboard 1,2,3,4
A madeira ideal para a xilo é a imburana, ou umburana, pela facilidade de se deixar talhar, mas infelizmente não se encontra mais no Recife, nem mesmo nas cidades mais próximas do interior de Pernambuco. Eu teria que me deslocar para o sertão, mais precisamente, Ibirim Mirim, onde ainda há oferta dessa madeira.
Problema na madeira
Fui assim a uma madeireira junto com Meca e resolvemos experimentar Cedro Arana, que tinha uma textura bonita e uma cor clara que contrastaria bem com o preto. Cortamos as tábuas em pranchas, lixamos e desenhamos. Na hora de entalhar, por ser uma madeira mista, algumas lascas levantaram e ficamos com receio de estragar o desenho. Decidimos comprar uma nova madeira. Dessa vez escolhemos o louro canela, e fizemos novamente o corte, a lixa e o desenho.
Passei todas as imagens de Juvenal e o Dragão para a madeira com um carbono e marquei, pintando com grafite, as áreas que ficariam em preto e as que deveriam ser escavadas. O entalhe ficou por conta de Meca e Davi. As imagens de Juvenal são mais detalhadas que as dos outros dois livros. Todos os dias olhava os detalhes das matrizes de J. Miguel e via o que era possível fazer. Mas quando eles iniciaram o entalhe percebi que não tinham as ferramentas para detalhes tão minuciosos e nos demais livros procurei fazer imagens que exigissem menor detalhamento. Foi um trabalho hercúleo, e agradeço profundamente a paciência e a dedicação de Meca e Davi.
Meca e Davi
Depois de entalhadas, as matrizes voltaram para mim e iniciei o entintamento. Usei tinta gráfica preta, própria para xilogravura. Como eu acabava sujando de preto algumas áreas que não deveria, precisei retocar boa parte das matrizes e fazer alguns acabamentos mais finos e de texturas. Foi um longo trabalho, e maior ainda foi o tempo de secagem da tinta. A essa altura eu já estava com o tempo bem estourado dentro do meu cronograma, e precisava enviar as matrizes prontas para fotografia. A tinta levou mais de quinze dias para secar e não secou completamente. Foi para fotografar ainda úmido. Davi me deu uma ideia maravilhosa para o entintamento das matrizes dos outros dois livros. Já que a matriz seria fotografada e não impressa, sugeriu que eu usasse tinta para artesanato. Foi minha salvação! Daí o entintamento, o acabamento e a limpeza foram feitos em tempo menor.
Entintamento 1,2,3,4
As matrizes foram enviadas para serem fotografadas e tratadas por Robson Lemos, que fez um lindo trabalho. Com as imagens digitalizadas em mãos, passei ao tratamento mais fino da imagem, limpeza das falhas da madeira e colocação de detalhes que não foram feitos no entalhe, como os rostos de alguns personagens que no original estavam muito pequenos. Finalizada essa fase, passei a pensar na cor.
Fotografia
Cores
As cores foram aplicadas digitalmente. Eu tinha a opção de colorir diretamente na madeira antes de fotografar, teria sido mais simples. Mas na realidade eu não sabia se iria colorir as imagens ou não. Foi uma dúvida que permaneceu na minha cabeça até o momento de trabalhar com as imagens digitalizadas.
Quando testei a colorização, o contraste entre o preto, a madeira e as cores chapadas do computador me agradou bastante, e achei que esteticamente atualizava a linguagem da matriz. Mas ainda tinha a dúvida de como usar a cor. Escolhi usar o mínimo de cores possíveis, para que o preto da matriz pudesse ser preservado ao máximo e que a cor tivesse um valor narrativo. Usei a cor apenas para pontuar visualmente a narrativa.
Cores
Quanto à palheta, pensei em princípio numa palheta de cores primárias, como a que os xilógrafos usam. Mas não gostei. Achei que quebrava a sobriedade do projeto gráfico. Decidi usar as cores usadas na capa e nas primeiras páginas do livro como as cores principais dos personagens, assim eu garantiria harmonia e diálogo com o projeto gráfico e as demais cores necessárias seriam consequências dessas combinações.
Tipografia
Outro desafio foi a tipografia e a aplicação do texto. Meu primeiro pensamento foi entalhar todo o alfabeto na madeira, fotografar e montar o texto. Teriam que ser dois alfabetos: um em alto-relevo e outro em baixo-relevo, para usar no fundo em madeira e no fundo em preto, respectivamente. Mas além de trabalhoso, era, principalmente, limitante para o objetivo que eu tinha de que o texto aplicado desse a sensação de ter sido esculpido na madeira. Limitante porque nesse caminho, eu teria tempo de fazer apenas uma letra de cada e isso me daria uma estaticidade que eu não desejava.
Desenhei então no computador uma fonte com vários A, vários B, vários C, assim por diante, para que, depois de montado o texto apresentasse uma irregularidade próxima a de um texto entalhado manualmente. Depois de criado o alfabeto passei a montar o texto, letra por letra, como o próprio Leandro fizera anos antes em sua folheteria, só que agora digitalmente.
O fato de não ter um registro para montagem do texto, como o que o tipógrafo usa para controlar o afastamento entre as letras e entre as palavras, e ainda ter decidido pelo texto justificado, acabou por acarretar uma sobrecarga de trabalho para ajustar cada letra, palavra e frase. Novamente Liz entrou em cena e montou o texto que eu enviava para ela formatado, colocando as letras uma a uma. Depois me reenviou e eu, pacientemente, dei o ajuste fino dos espaçamentos. Tão trabalhoso quanto montar o texto foi fazer os ajustes finais depois da revisão.
Folheto
A edição do folheto propriamente dito requereu não só o trabalho de digitação, mas principalmente um cuidadoso trabalho de revisão. Precisávamos reproduzir o texto o mais fiel possível ao original e ao mesmo tempo fazer uma revisão ortográfica, padronizar o uso da pontuação e “ajustar” possíveis erros que as diversas reedições dos folhetos ao longo do tempo acabam por cometer. Dessa forma, com o máximo respeito ao texto original de Leandro, fizemos pequenas intervenções para atualizar o folheto. Na terceira capa de cada um colocamos as referências bibliográficas dos cordéis utilizados.
Produção
Pela primeira vez na vida, tive a oportunidade de ter acesso às provas da gráfica. E foi fundamental. Elas chegaram a mim, primeiramente em um encontro que tive com Annete, no Rio de Janeiro, e depois por sedex. Nelas podemos perceber problemas de nitidez no pano de fundo da matriz, que sofreu algumas alterações durante o tratamento de imagem, perceber problemas de espaçamento das letras montadas manualmente, falhas na colocação das cores e outros detalhes decorrentes do tempo excessivo em frente à tela do computador que acaba por enganar os olhos. Além de aspectos que só conseguimos detectar com a imagem impressa. Depois de aprovar as provas de prelo, a produção gráfica foi feita por Marcos Secco, contratado pela editora, para fazer o acompanhamento da impressão junto à Gráfica Pallotti. Quando recebi os livros prontos confesso que fiquei impressionada com o carinho e o cuidado com que foram produzidos.
Livro 1,2,3
Lançamentos
Depois que o livro entrou em produção, passamos a trabalhar nos convites para o lançamento, capa de CD com o material para divulgação junto às escolas e imprensa e uma caixa que acondicionaria a coleção. Com os livros nas mãos e muita vontade de celebrar um processo longo, rico e trabalhoso, vários lançamentos foram marcados.
Envelope CD
Caixa
Houve três pré-lançamentos para professores em Caxias do Sul, em Bento Gonçalves e em Porto Alegre, e um lindo lançamento no Santander Cultural, em Porto Alegre, onde 20 das 36 matrizes foram expostas, complementadas pelas impressões de xilogravuras que foram feitas especialmente para a exposição de lançamento.
A programação durou três dias, encerrando no dia 22 de agosto, dia do folclore. Coordenei duas oficinas de xilogravura para crianças. Foi um evento inesquecível, e eu estava muito feliz. Logo em seguida tivemos um lançamento em Curitiba. Mais de um mês depois chegou a vez de Recife, e foi um lançamento em dose dupla.
O primeiro aconteceu numa quarta-feira, no Centro Cultural dos Correios, onde talvez tenha sido o momento mais emocionante, quando celebrei junto a minha família e amigos queridos, alguns que não via há mais de 15 anos, na minha cidade. Fizemos duas pequenas palestras: Meca falou sobre as origens do cordel o sobre a importância de Leandro e eu sobre o processo de criação da coleção. Depois tivemos a história de Juvenal e o Dragão contada pelo mestre José Lopes, um dos mais talentosos mamulengueiro de nosso estado. Finalizando a noite tivemos uma exposição com 10 matrizes e os bonecos dos personagens dos livros confeccionados por Meca e Davi, com direito a coquetel e autógrafos.
O segundo foi num domingo na Livraria Cultura, quando reencontrei vários amigos e tive o prazer de dividir a mesa com Kafundó, o boneco companheiro de Davi, que brincou e encantou as crianças durante a sessão de autógrafos. Depois de Recife, estive em Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre novamente para a Feira do Livro, e em São Paulo, para encerrar o cronograma de lançamentos, no final de novembro.
Reconto final
Mais de um ano de pesquisas e reflexões, seis meses de trabalho ininterrupto e exclusivo, jornada de trabalho de 14 a 18 horas diárias, troca de madeira, tinta que não seca, copa mundial e feriados que nos deixam sem os serviços dos correios exatamente no momento em que se precisa enviar material do Recife para Porto Alegre, arquivos que somem, computador lento para lidar simultaneamente com três conjuntos de arquivos variados e pesados. Apesar dos atropelos, o curioso foi perceber que nada tirou o meu humor ou o meu prazer em realizar esses livros. Aprender a artesania do texto, dos versos, do poeta, da imagem, das relações. Aprender a artesania da madeira e a artesania do computador, me deram um fôlego e um ânimo que eu mesma desconhecia.
créditos , link aqui.
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