sexta-feira, 18 de março de 2011
SÃO PAULO A BELO HORIZONTE DE TREM? ESQUEÇA
Rio-Belo Horizonte tinha seu trem. Já SP-BH...
Trens de passageiros existem no Brasil desde 1854 até hoje. Hoje, porém, descontando os trens metropolitanos (CPTM, Metrô, Supervia, Porto Alegre-São Leopoldo, Salvador-Paripe e (poucos) outros), o que existe? Só o Vitória-Minas (com um ramal para Itabira), o São Luiz-Carajás e o Macapá-Serra do Navio, no Amapá (sim, existe!). Há dois outros que são primordialmente turísticos, embora sendo diários: o Curitiba-Paranaguá e o Pindamonhangaba-Campos do Jordão. Eles não param nas estações intermediárias, apenas nas extremas (com exceção da de Morretes, na primeira, e da de Eugenio Lefevre, na segunda).
Houve um tempo, grande, até, em que eles existiram regularmente por boa parte do Brasil. Aos poucos - a decadência começou após o final da Segunda Guerra Mundial - eles foram, por diversas razões, se extinguindo. Nos anos 1970, degringolaram de vez no quesito qualidade. Em São Paulo, acabaram em 2001, decadentíssimos.
Como é gostoso para quem gosta do assunto ler sobre as histórias de quem andava por trens como os da Paulista, Mogiana, Sorocabana e outras ferrovias pelo Brasil. Gente que pegava o trem em São Paulo e viajava quatro dias dentro de um trem até Porto Alegre. Ou até o Rio. Quais eram as viagens mais comuns de trem a partir da cidade de São Paulo? Ora, tirando-se as feitas pelo nosso interior, era comum viajar da capital paulista por trem para Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro, assim como para o interior de Minas.
Havia uma capital, no entanto, para onde pouco se viajava a partir da capital paulista. Era Belo Horizonte. Não havia, realmente, um trem direto daqui para lá. Havia de se ir até o Rio e de lá subri novamente a serra das Araras para voltar a Barra do Piraí, por onde já se havia passado, para seguir até a capital mineira. Em compensação, trens São Paulo-Rio e Rio-BH eram constantes e bons. Por que não SP-BH?
Em quinze anos de pesquisas ferroviárias jamais ouvi alguém comentando sobre uma viagem de trem de São Paulo a Belo Horizonte. Teoricamente, elas teriam começado em 1895, quando se inaugurou a ligação da recém-instalada capital mineira. Mas era assim: SP-Rio, Rio-BH... com mudança de bitola no meio do caminho, na região siderúrgica mineira. Depois, unificaram a bitola do Rio até BH - passou a ser toda ela larga em 1917 - mas trem direto de SP para lá, neca.
Qual seria, realmente, o fluxo ferroviário de passageiros entre SP e BH? A ligação por via rodoviária começou a ser construída somente em 1929, o embrião da atual Fernão Dias. Então, antes, quem quisesse fazer a viagem, só mesmo de trem. Mas não tenho lido um relato sequer de alguém que tenha feito essa viagem, em época nenhuma! Meu avô Sud Mennucci visitou Belo Horizonte em 1931 e esta teria sido a única vez em que ele esteve por lá. Como ele antes foi para o Rio de Janeiro, ele, que quase certamente fez esta viagem por trem, fez o trajeto SP-Rio-BH sem problemas. Ou fê-lo de propósito, pois teria de ir ao Rio de qualquer forma?
Digo "de qualquer forma", pois, em princípio, poder-se-ia tomar um trem em São Paulo, descer em Barra do Piraí - entroncamento das linhas - e aguardar a baldeação do trem que vinha do Rio para BH e tomá-lo ali. Pode ser que isso ocorresse até os anos 1930 e 1940, mas com que frequência? E olhando em um Guia Levi de 1940, quando viagens de trem pelo país ainda eram comuns tendo-se em conta que as linhas de avoão ainda eram caríssimas e as rodovias muito ruins, é surpreendente o que se vê de alternativa para ir de SP a BH por trem: indo até Barra do Piraí pela Central. onde os trens "diretos" (com poucas paradas) chegavam em cinco horários diferentes (16:34, 4:12, 5:04, 5:45 e 6:45). Os trens "diretos" que passavam por ali vindos do Rio para BH chegavam às 8:31, 21:03 e 23:01. Muita espera numa cidade pequena. Quem faria isto?
Alternativas: pegar ali um trem para Soledade, dali para Três Corações, Lavras, Garças de Minas e finalmente Belo Horizonte... nossa! Ninguém faria isto, era muito tempo sobre trilhos, muitas mudanças de trens, muita espera. Outra alternativa: Mogiana de SP a Uberaba, dali pela RMV até Garças e BH... outra vez o mesmo tormento.
Também em 15 anos de pesquisas sobre ferrovias brasileiras jamais vi algum relato de alguém se queixando da falta de trens entre as duas capitais. Ninguém ligava? BH era uma cidade sem importância para os paulistas? Difícil de acreditar, ainda mais quando se sabe que na República Velha, até 1930, as alianças paulistas e mineiras eram constantes e tinham grande influência na política brasileira de então.
Será que em nenhum momento da história o governo paulista não tentou interceder junto à Central do Brasil de forma a conseguir um trem direto entre as duas capitais? É possível até que a resposta da Central fosse "dar de ombros", pois a Central (e o Brasil, em geral) jamais ligou para os paulistas (embora a linha mais rentável deles fosse o ramal de São Paulo), mas mesmo assim...
São mistérios da história que eu, pelo menos, ainda não consegui deslindar.
Trens de passageiros existem no Brasil desde 1854 até hoje. Hoje, porém, descontando os trens metropolitanos (CPTM, Metrô, Supervia, Porto Alegre-São Leopoldo, Salvador-Paripe e (poucos) outros), o que existe? Só o Vitória-Minas (com um ramal para Itabira), o São Luiz-Carajás e o Macapá-Serra do Navio, no Amapá (sim, existe!). Há dois outros que são primordialmente turísticos, embora sendo diários: o Curitiba-Paranaguá e o Pindamonhangaba-Campos do Jordão. Eles não param nas estações intermediárias, apenas nas extremas (com exceção da de Morretes, na primeira, e da de Eugenio Lefevre, na segunda).
Houve um tempo, grande, até, em que eles existiram regularmente por boa parte do Brasil. Aos poucos - a decadência começou após o final da Segunda Guerra Mundial - eles foram, por diversas razões, se extinguindo. Nos anos 1970, degringolaram de vez no quesito qualidade. Em São Paulo, acabaram em 2001, decadentíssimos.
Como é gostoso para quem gosta do assunto ler sobre as histórias de quem andava por trens como os da Paulista, Mogiana, Sorocabana e outras ferrovias pelo Brasil. Gente que pegava o trem em São Paulo e viajava quatro dias dentro de um trem até Porto Alegre. Ou até o Rio. Quais eram as viagens mais comuns de trem a partir da cidade de São Paulo? Ora, tirando-se as feitas pelo nosso interior, era comum viajar da capital paulista por trem para Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro, assim como para o interior de Minas.
Havia uma capital, no entanto, para onde pouco se viajava a partir da capital paulista. Era Belo Horizonte. Não havia, realmente, um trem direto daqui para lá. Havia de se ir até o Rio e de lá subri novamente a serra das Araras para voltar a Barra do Piraí, por onde já se havia passado, para seguir até a capital mineira. Em compensação, trens São Paulo-Rio e Rio-BH eram constantes e bons. Por que não SP-BH?
Em quinze anos de pesquisas ferroviárias jamais ouvi alguém comentando sobre uma viagem de trem de São Paulo a Belo Horizonte. Teoricamente, elas teriam começado em 1895, quando se inaugurou a ligação da recém-instalada capital mineira. Mas era assim: SP-Rio, Rio-BH... com mudança de bitola no meio do caminho, na região siderúrgica mineira. Depois, unificaram a bitola do Rio até BH - passou a ser toda ela larga em 1917 - mas trem direto de SP para lá, neca.
Qual seria, realmente, o fluxo ferroviário de passageiros entre SP e BH? A ligação por via rodoviária começou a ser construída somente em 1929, o embrião da atual Fernão Dias. Então, antes, quem quisesse fazer a viagem, só mesmo de trem. Mas não tenho lido um relato sequer de alguém que tenha feito essa viagem, em época nenhuma! Meu avô Sud Mennucci visitou Belo Horizonte em 1931 e esta teria sido a única vez em que ele esteve por lá. Como ele antes foi para o Rio de Janeiro, ele, que quase certamente fez esta viagem por trem, fez o trajeto SP-Rio-BH sem problemas. Ou fê-lo de propósito, pois teria de ir ao Rio de qualquer forma?
Digo "de qualquer forma", pois, em princípio, poder-se-ia tomar um trem em São Paulo, descer em Barra do Piraí - entroncamento das linhas - e aguardar a baldeação do trem que vinha do Rio para BH e tomá-lo ali. Pode ser que isso ocorresse até os anos 1930 e 1940, mas com que frequência? E olhando em um Guia Levi de 1940, quando viagens de trem pelo país ainda eram comuns tendo-se em conta que as linhas de avoão ainda eram caríssimas e as rodovias muito ruins, é surpreendente o que se vê de alternativa para ir de SP a BH por trem: indo até Barra do Piraí pela Central. onde os trens "diretos" (com poucas paradas) chegavam em cinco horários diferentes (16:34, 4:12, 5:04, 5:45 e 6:45). Os trens "diretos" que passavam por ali vindos do Rio para BH chegavam às 8:31, 21:03 e 23:01. Muita espera numa cidade pequena. Quem faria isto?
Alternativas: pegar ali um trem para Soledade, dali para Três Corações, Lavras, Garças de Minas e finalmente Belo Horizonte... nossa! Ninguém faria isto, era muito tempo sobre trilhos, muitas mudanças de trens, muita espera. Outra alternativa: Mogiana de SP a Uberaba, dali pela RMV até Garças e BH... outra vez o mesmo tormento.
Também em 15 anos de pesquisas sobre ferrovias brasileiras jamais vi algum relato de alguém se queixando da falta de trens entre as duas capitais. Ninguém ligava? BH era uma cidade sem importância para os paulistas? Difícil de acreditar, ainda mais quando se sabe que na República Velha, até 1930, as alianças paulistas e mineiras eram constantes e tinham grande influência na política brasileira de então.
Será que em nenhum momento da história o governo paulista não tentou interceder junto à Central do Brasil de forma a conseguir um trem direto entre as duas capitais? É possível até que a resposta da Central fosse "dar de ombros", pois a Central (e o Brasil, em geral) jamais ligou para os paulistas (embora a linha mais rentável deles fosse o ramal de São Paulo), mas mesmo assim...
São mistérios da história que eu, pelo menos, ainda não consegui deslindar.
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