ORIGEM E FINAL DE UM LIVRO SOBRE TRENS
A estação de Itatingui, em Pederneiras, SP: origem do nome do livro "Um dia o trem passou por aqui", em 2001
Meu livro UM DIA O TREM PASSOU POR AQUI foi lançado em novembro de 2001, quase há dez anos atrás. Foi meu segundo livro, o primeiro sobre ferrovias. Graças a Deus foi muito bem recebido. Recebi muitos comentários desde então e os dois abaixo foram os que mais me emocionaram.
Pouca gente sabe, mas o nome teve origem na estação de Itatingui, uma pequena estação ferroviária situada na área rural de Pederneiras, perto de Jaú, no Estado de São Paulo. Eu havia visitado e fotografado a estação em 2001 enquanto estava escrevendo o livro. Gostei muito do local e do prédio. Postei as fotografias que tirei aquele dia numa lista de discussões da Internet e chamei o e-mail de "Um dia o trem passou por aqui", referindo-me ao fato de ali não haver mais trilhos: a estação está no meio do nada, e achei fantástica aquela cena de imaginar que um dia, há muitos anos atrás, trens passavam por ali. Alguém comentou na lista que gostou do título e me chamou a atenção para ele. Eu então o coloquei como nome do meu livro.
Primeiro comentário: Recebi o seu livro. Estou maravilhado. Tinha grande curiosidade pela obra, mas, com sinceridade, não esperava algo tão sensacional. O livro é extremamente belo. Extremamente belo. O capítulo sobre os trens da Alta Sorocabana, com aquela fotografia da estação de Martinópolis, ainda tão cheia de gente, certos detalhes simplesmente inacreditáveis (a famosa curva depois de Martinópolis, em que o trem parece que quer, vamos dizer, atropelar-se, e em que se tem a sensação de que ele está indo para qualquer lugar, menos na direção de Presidente Prudente) - por que não dizê-lo? - comoveram-me até às lágrimas, literalmente. É por isso, caro Ralph, que o trem me desperta muito a curiosidade e a paixão: porque, exatamente como nas fotografias que abrem os capítulos 1 e 6, ou como no agradável texto de Sud Mennucci, ele lembra o povo da nossa terra. Acabou-se o trem, porque acabaram, antes de tudo, as pessoas que gostavam de acenar-lhe quando passava, que se emocionavam por vê-lo chegar, que se preocupavam em empregá-lo simplesmente porque demorava mais, é verdade, mas era mais alegre e permitia que se sentisse o cheiro do mato. Pequenos gestos que, para mim, significavam uma outra visão de mundo, menos brutal que a nossa, nos dias que correm. Por outras palavras: nos nossos dias, em que as coisas do espírito passam por um velado mas persistente desprezo, o trem iria mesmo acabar-se. Não sou crítico literário, não sou entendido em ferrovias, mas, pelo menos para mim, você escreveu um livro fantástico. (Josué Modesto Passos)
Segundo comentário: "Um dia o trem passou por aqui" é um livro que faz recordar, refletir, sentir saudades e angústia. E que dá uma baita bronca contra os mandões que foram acabando com o trem de passageiros. O autor, um paulistano de 51 anos, conta histórias de trem. Descreve as alegrias e tristezas de uma viagem, percorre a história brasileira exemplificada na fase áurea do café, reproduz depoimentos, recupera artigos publicados há quase um século pelo seu próprio avô, o educador Sud Mennucci - e tudo isso é muito bom. O lado triste, que amargura, é a constatação no capítulo 13, cujo título é O fim dos trens de passageiros no Estado. Uma foto que abre este capítulo sintetiza todo o drama registrado pelo autor. Diz a legenda: "O último trem da linha Itirapina-São José do Rio Preto estacionado, com míseros dois carros de passageiros, em 14 de março de 2001, no segundo trilho junto à plataforma de Itirapina. Ele aguardava a chegada da composição que vinha de Campinas para Bauru, que pararia na primeira linha. A melancólica última viagem determinava também que, se o trem de Campinas chegasse atrasado, o outro partiria assim mesmo". Fiel à realidade, minucioso nas datas - há um mapa cronológico das linhas das ferrovias no Estado de São Paulo que focaliza, ano a ano, de 1867 a 2001, tudo o que aconteceu na ferrovia paulista - Ralph nos oferece um retrato perfeito do tema. O texto fascina. "Rio Claro!" gritou o ajudante do trem. Daí a pouco, a plataforma da estação regurgitava de viajantes apressados, carregando malas, segurando crianças, ensurdecidos pelos berros dos carregadores, do bufar insistente das caldeiras das máquinas, apitos dos guarda-chaves e rolar de carros em manobras. Um vai-vem, um vozerio sem fim" (trecho que abre o capítulo 1, A ferrovia romântica). "Desde 1865, a São Paulo Railway transportava passageiros gratuitamente entre Santos e São Paulo, em algumas ocasiões, para divulgar a maravilha que seria a viagem quando tudo estivesse definitivamente pronto" (trecho do capítulo 2, Um pouco de História). "A estação de trem é o lugar mais bonito e movimentado da vila (de Guariba, em 1906), e o carro restaurante é a coisa mais deslumbrante da estação de trem. Foi só uma vez que deu certo de chegarmos lá na hora que o trem vinha vindo, batendo o sino, e parando e parando até chegar bem na nossa frente" (trecho do capítulo 3, O trem se incorpora à vida do interior). A coluna sugere a compra deste livro belíssimo. (Ademir Medici, jornalista, da Coluna "Memória" do Diário do Grande ABC, de 18/11/2002)
Escrevo isto pois no momento meu livro só tem dois exemplares sobrando para venda. O estoque acabou, depois de quase dez anos. Em termos de vendas, foi um desastre: mil exemplares levaram mais de nove anos para serem vendidos. Claro, não tenho qualquer fama como escritor. Os livros foram vendidos pelo site e "de boca".
Mas valeu muito a pena tê-lo escrito. Eu também gosto muito dele.
Meu livro UM DIA O TREM PASSOU POR AQUI foi lançado em novembro de 2001, quase há dez anos atrás. Foi meu segundo livro, o primeiro sobre ferrovias. Graças a Deus foi muito bem recebido. Recebi muitos comentários desde então e os dois abaixo foram os que mais me emocionaram.
Pouca gente sabe, mas o nome teve origem na estação de Itatingui, uma pequena estação ferroviária situada na área rural de Pederneiras, perto de Jaú, no Estado de São Paulo. Eu havia visitado e fotografado a estação em 2001 enquanto estava escrevendo o livro. Gostei muito do local e do prédio. Postei as fotografias que tirei aquele dia numa lista de discussões da Internet e chamei o e-mail de "Um dia o trem passou por aqui", referindo-me ao fato de ali não haver mais trilhos: a estação está no meio do nada, e achei fantástica aquela cena de imaginar que um dia, há muitos anos atrás, trens passavam por ali. Alguém comentou na lista que gostou do título e me chamou a atenção para ele. Eu então o coloquei como nome do meu livro.
Primeiro comentário: Recebi o seu livro. Estou maravilhado. Tinha grande curiosidade pela obra, mas, com sinceridade, não esperava algo tão sensacional. O livro é extremamente belo. Extremamente belo. O capítulo sobre os trens da Alta Sorocabana, com aquela fotografia da estação de Martinópolis, ainda tão cheia de gente, certos detalhes simplesmente inacreditáveis (a famosa curva depois de Martinópolis, em que o trem parece que quer, vamos dizer, atropelar-se, e em que se tem a sensação de que ele está indo para qualquer lugar, menos na direção de Presidente Prudente) - por que não dizê-lo? - comoveram-me até às lágrimas, literalmente. É por isso, caro Ralph, que o trem me desperta muito a curiosidade e a paixão: porque, exatamente como nas fotografias que abrem os capítulos 1 e 6, ou como no agradável texto de Sud Mennucci, ele lembra o povo da nossa terra. Acabou-se o trem, porque acabaram, antes de tudo, as pessoas que gostavam de acenar-lhe quando passava, que se emocionavam por vê-lo chegar, que se preocupavam em empregá-lo simplesmente porque demorava mais, é verdade, mas era mais alegre e permitia que se sentisse o cheiro do mato. Pequenos gestos que, para mim, significavam uma outra visão de mundo, menos brutal que a nossa, nos dias que correm. Por outras palavras: nos nossos dias, em que as coisas do espírito passam por um velado mas persistente desprezo, o trem iria mesmo acabar-se. Não sou crítico literário, não sou entendido em ferrovias, mas, pelo menos para mim, você escreveu um livro fantástico. (Josué Modesto Passos)
Segundo comentário: "Um dia o trem passou por aqui" é um livro que faz recordar, refletir, sentir saudades e angústia. E que dá uma baita bronca contra os mandões que foram acabando com o trem de passageiros. O autor, um paulistano de 51 anos, conta histórias de trem. Descreve as alegrias e tristezas de uma viagem, percorre a história brasileira exemplificada na fase áurea do café, reproduz depoimentos, recupera artigos publicados há quase um século pelo seu próprio avô, o educador Sud Mennucci - e tudo isso é muito bom. O lado triste, que amargura, é a constatação no capítulo 13, cujo título é O fim dos trens de passageiros no Estado. Uma foto que abre este capítulo sintetiza todo o drama registrado pelo autor. Diz a legenda: "O último trem da linha Itirapina-São José do Rio Preto estacionado, com míseros dois carros de passageiros, em 14 de março de 2001, no segundo trilho junto à plataforma de Itirapina. Ele aguardava a chegada da composição que vinha de Campinas para Bauru, que pararia na primeira linha. A melancólica última viagem determinava também que, se o trem de Campinas chegasse atrasado, o outro partiria assim mesmo". Fiel à realidade, minucioso nas datas - há um mapa cronológico das linhas das ferrovias no Estado de São Paulo que focaliza, ano a ano, de 1867 a 2001, tudo o que aconteceu na ferrovia paulista - Ralph nos oferece um retrato perfeito do tema. O texto fascina. "Rio Claro!" gritou o ajudante do trem. Daí a pouco, a plataforma da estação regurgitava de viajantes apressados, carregando malas, segurando crianças, ensurdecidos pelos berros dos carregadores, do bufar insistente das caldeiras das máquinas, apitos dos guarda-chaves e rolar de carros em manobras. Um vai-vem, um vozerio sem fim" (trecho que abre o capítulo 1, A ferrovia romântica). "Desde 1865, a São Paulo Railway transportava passageiros gratuitamente entre Santos e São Paulo, em algumas ocasiões, para divulgar a maravilha que seria a viagem quando tudo estivesse definitivamente pronto" (trecho do capítulo 2, Um pouco de História). "A estação de trem é o lugar mais bonito e movimentado da vila (de Guariba, em 1906), e o carro restaurante é a coisa mais deslumbrante da estação de trem. Foi só uma vez que deu certo de chegarmos lá na hora que o trem vinha vindo, batendo o sino, e parando e parando até chegar bem na nossa frente" (trecho do capítulo 3, O trem se incorpora à vida do interior). A coluna sugere a compra deste livro belíssimo. (Ademir Medici, jornalista, da Coluna "Memória" do Diário do Grande ABC, de 18/11/2002)
Escrevo isto pois no momento meu livro só tem dois exemplares sobrando para venda. O estoque acabou, depois de quase dez anos. Em termos de vendas, foi um desastre: mil exemplares levaram mais de nove anos para serem vendidos. Claro, não tenho qualquer fama como escritor. Os livros foram vendidos pelo site e "de boca".
Mas valeu muito a pena tê-lo escrito. Eu também gosto muito dele.
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