sábado, 26 de fevereiro de 2011

Literatura








Diz a lenda que, em Buenos Aires, o leitor não precisa sair em busca dos livros; eles mesmos se encarregam de ir ao encontro dele. A mais literária das cidades latino-americanas tem motivos de sobra para festejar o ano de 2011: no próximo 23 de abril, passa a ser Capital Mundial do Livro, título conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) às cidades que se candidatam a esta designação e são consideradas merecedoras. Apenas um município é escolhido anualmente. Ao longo de 12 meses – até 23 de abril de 2012 –, o mundo editorial será a grande estrela em Buenos Aires. A capital, que já tem uma rica agenda anual de eventos de literatura e poesia, será palco de inúmeras manifestações para celebrar a nomeação: seminários sobre tradução, leitura digital e autores; semanas de livrarias nos bairros; tertúlias literárias em bares e hotéis; festivais de literatura fantástica e poesia são algumas das atividades previstas.


Em vigor desde 2001, a distinção outorgada pela Unesco é alvo de acirrada disputa entre cidades do mundo todo. A seleção é realizada por uma comissão que analisa os projetos apresentados, o histórico do setor livreiro e editorial, os programas de incentivo à leitura e à difusão do livro, a agenda anual de eventos, incluindo os festivais e concursos literários promovidos pelo poder público ou pela iniciativa privada. A escolha não implica prêmio material, mas é um reconhecimento simbólico à trajetória livreira. “Esta nomeação é uma merecida homenagem aos nossos escritores, livreiros, editores, tradutores, educadores e a todos aqueles que trabalham por amor à palavra”, afirmou o secretário de Cultura de Buenos Aires, Hernán Lombardi. Ele sublinhou que a cidade almejava conquistar o título especialmente em 2011, porque neste ano se celebra o 200º aniversário do Decreto e Regulamento sobre a Liberdade de Imprensa, assinado logo após a independência da Argentina, em 1810. O decreto foi o marco inicial da transformação de Buenos Aires em centro de efervescência literária.


O livro está tão incorporado na alma dos portenhos que até seria o caso de perguntar se ocupa o mesmo patamar do tango ou do doce de leite. Muitos desfrutam do ócio criativo nos cafés, lendo durante horas enquanto degustam um cortado (café com leite) e saboreiam um pãozinho medialuna. Mais de 300 livrarias de todos os tipos e formatos servem a um público fiel e regular. Uma rede de 28 bibliotecas públicas cobre todo o município. Os cafés que fazem parte do programa municipal Yo Leo en el Bar têm alguns títulos à disposição dos clientes. É só pegar, ler e depois colocar de volta na estante. Sem pagar a mais por isso. Um sistema semelhante, mas voltado para as crianças, funciona na área destinada aos equipamentos infantis de algumas praças.


Madri foi a primeira Capital Mundial do Livro. Em seguida vieram Alexandria (Egito); Nova Délhi (Índia); Antuérpia (Bélgica); Montreal (Canadá); Turim (Itália); Bogotá (Colômbia), Amsterdã (Holanda) e Beirute (Líbano). Liubliana foi a última a desfrutar da nomeação, em 2010. A capital da Eslovênia conclui seu mandato em 23 de abril, quando Buenos Aires dá início ao seu, em cerimônia a ser realizada na Feira Internacional do Livro, que acontece todos os anos na cidade. A data foi escolhida criteriosamente por ser o Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral e lembrar a data de morte de dois grandes da literatura universal: William Shakespeare e Miguel de Cervantes. ©









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