sábado, 5 de fevereiro de 2011

Blog do Ralph Giesbrecht




Patrimônio Cultural

A DECADÊNCIA DE UMA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA PAULISTA

A estação de Engenheiro Bacelar em 1909, recém inaugurada. Aparentemente na foto ainda ostentava o nome de Lagoa Grande

No primeiro dia do ano de 1909, a Estrada de Ferro Sorocabana inaugurou o trecho da mais importante ferrovia do Brasil naquele momento histórico: a ligação entre a cidade de Buri e o povoado de Lagoa Grande, parte do ramal de Itararé. Duas inaugurações mais, a primeira em março e a segunda em primeiro de abril do mesmo ano - esta até Itararé - fariam com que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro estivessem finalmente ligadas por via ferroviária a Curitiba, no Paraná. No final do ano seguinte, com a construção de uma ponte sobre o rio Uruguai em Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul, fariam com que os trens chegassem até Porto Alegre, a Livramento, na divisa com o Uruguai e a Uruguaiana, divisa com a Argentina.

Não há registros, ou pelo menos não os encontrei, se esse curto trecho inaugurado até Lagoa Grande teve grandes solenidades. É até possível que não, pois além de ser pequeno - apenas 26 quilômetros - já se esperava por duas inaugurações próxima: uma dois meses depois, até Rio Verde, às margens desse rio e a final, mais curta, mas mais importante, em primeiro de abril, que se ligaria com a linha já pronta da E. F. São Paulo-Rio Grande em Itararé.
1990 (Hugo Caramuru)
Tecnicamente eram a mesma linha naquele instante: as duas estavam dadas em concessão à Brazil Railway Company, de Percival Farquhar e Hector Legru, a Sorocabana como concessão do governo do Estado à BRC e a SP-RG sendo propriedade da própria BRC e não da União.
1998 (Ralph M. Giesbrecht)
Pouco depois da inauguração, a estação de Lagoa Grande foi renomeada como uma homenagem ao Engenheiro Joaquim Huet Bacellar, que dirigiu por algum tempo as obras do ramal de Itararé e trabalhou em diversas outras ferrovias no Brasil, além de obras de engenharia de todos os tipos. O nome passou então a ser Engenheiro Bacellar.

A estação era pequena e bem típica da Sorocabana dessa época: várias outras no mesmo ramal eram praticamente iguais a ela, como a de Rondinha, inaugurada no mesmo dia e no mesmo trecho da ferrovia. Sofreu uma ou outra reforma com o tempo, mas manteve sua arquitetura básica. Por ela passaram inúmeros trens da Sorocabana, cargueiros e de passageiros. Por ela passou o comboio de Getúlio Vargas, subindo de Porto Alegre para o Rio de Janeiro na revolução de 1930 e passou também o famoso Trem Internacional, criado em 1943 como alternativa às viagens de navio para o Sul, no meio da guerra onde submarinos alemães afundaram alguns vasos brasileiros. Esteve próxima a inúmeras batalhas durante a revolução de 1932, pois estava não muito longe da fronteira paranaense.
2003 (Adriano Martins)
Até os anos 1980, estava em razoável estado de conservação. Ainda estava aberta no ano de 1986, mesmo sem trens de passageiros, que acabaram oito anos antes naquela linha. Nos anos 1990 começou sua degradação. Foi fechada. Em 1998, nem os trens de passageiros criados em 1997 para ligar Sorocaba a Apiaí paravam. Passavam direto. Eu mesmo passei por ela e percebi seu abandono numa manhã - cerca de seis horas da matina - de maio de 1998 vindo de Apiaí no trem.

2004 (Cristian Steagall-Condé)
Voltei a ela, de carro, nesse mesmo ano, seis meses depois e a fotografei. Era a única estação localizada no relativamente novo município de Taquarivaí, mas nem por isso a prefeitura jamais deu qualquer importância ou manutenção: está em zona praticamente rural, próxima à estrada que liga a cidade a Itapeva, mas sem poder ser vista desta. O armazém de mercadorias da CIBRAZEM que foi construído junto a ela anos antes justamente para se utilizar da infraestrutura ferroviária também fechou e foi abandonado.
2011 (André Luiz de Lima)
Da estaçãozinha hoje somente restam as paredes. Meu amigo André, de Itapeva, enviou-me uma foto dela tomada dois dias atrás. E nesta postagem coloco todos os estágios de deterioração de uma estação ferroviária brasileira. O que diria Joaquim Huet de Bacellar se ressuscitasse e visse o abandono a que relegada o velho e histórico prédio da antiga Lagoa Grande? 
Créditos, link aqui. 

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