terça-feira, 4 de janeiro de 2011

literatura

Tolkien – senhor dos anéis e da fantasia

por Kelly de Souza | História, Literatura, livros
John Ronald Reuel Tolkien, conhecido como J.R.R. Tolkien, faria ontem 119 anos. Lembrar desse gênio nunca é demais, sendo sempre muito prazeroso. Um homem comum, assim se via um dos mais respeitados autores do século XX. Mais do que isso: em seu discurso de despedida, realizado depois de lecionar literatura por 34 anos na Universidade de Oxford (de 1925 a 1959), esse gigante da fantasia explicou: “Eu sou um amador”. Que diferença com as celebridades de hoje!
Tolkien começou a escrever para satisfazer sua vontade interior e para entreter seu núcleo familiar e o círculo de amigos. A literatura fantástica na primeira metade do século XX não era considerada algo digna de pertencer ao cânone literário. Não era estudada nas universidades, e seu grupo de leitores se concentrava num reduzido público infantil. Tolkien mudou tudo. Sua “presença” revolucionou a atitude do público em relação à Fantasia, sendo hoje considerado um dos responsáveis pelo novo status adquirido pelo gênero.
Muito antes de o cinema tê-lo descoberto, o autor já havia descoberto que o universo da “fantasia medieval” tinha encantos que atraiam milhões de leitores, em qualquer língua. Outros autores já haviam antecedido Tolkien, como G.K. Chesterton, George MacDonald, Lewis Carroll, etc., mas ninguém havia conseguido como ele penetrar na mente dos leitores e infectá-los com um vasto repositório de lendas e mitos, construído nos mínimos detalhes com línguas, mapas, raças, costumes, cronologias e cenários que tiravam a respiração dos mais pragmáticos leitores. O espaço imaginário de Tolkien é quase enciclopédico, e seu talento para transformar “histórias de fadas” em grandes romances épicos poucas vezes foi superado. Ele mesmo utilizou o termo “fairy-story” para designar o gênero fantástico que abraçou.
Nascido em 3 de janeiro de 1892 na África do Sul, Tolkien perdeu o pai (bancário) quando tinha 4 anos e a mãe quando estava com pouco mais de 12 anos. Sem recursos para sobreviver, mas com talento, dedicação e bolsas de estudo foi estudar Língua e Literatura Inglesa em Oxford. Aos 21 anos casou-se com Edith Bratt e tiveram quatro filhos. Bratt inspirou o personagem Lúthien Tinúviel, a elfa da obra O Silmarillion, uma coletânea de trabalhos mitopoéticos publicada depois de sua morte pelo filho Christopher em 1977. Tolkien descreve na obra os fatos que transcorrem na chamada “Primeira Era”.
Em algumas biografias de Tolkien, sugere-se que enquanto ele corrigia provas no início da década de 1930 (já professor em Oxford) deparou-se com uma folha em branco e escreveu no verso: “Numa toca no chão, vivia um hobbit“, e desse lampejo repentino surgiu a obra-prima infantil O Hobbit, seu primeiro grande sucesso, publicado em setembro de 1937. Esses seres cabeludos e pacíficos, sem poderes mágicos, mas rápidos ao ponto de poderem desaparecer sem deixar vestígios, são habitantes do continente Terra Média (nome para a terra antiga – fictícia – criada por Tolkien e onde a maioria de seus contos ocorre). Os hobbits não gostam muito de gente grande (seres humanos), e a história do pequeno Bilbo Baggins, apanhado por um mago (Gandalf) e 13 anões que queriam recuperar seus tesouros (roubados pelo dragão Smaug) foi escrita originalmente por Tolkien para seus quatro filhos.
Bilbo tornou-se num herói reverenciado por qualquer leitor de qualquer idade, e seus leitores pediam obstinadamente uma sequência. Durante doze anos Tolkien trabalhou na continuação das aventuras na Terra Média, com inúmeras interrupções devido às vicissitudes de um homem que, independente de ser um grande autor, era dedicado ao lar e à educação dos filhos, e tinha as obrigações de um professor universitário (fora as vigilâncias noturnas que fez durante a II Grande Guerra Mundial). Mas Tolkien continuou a saga, publicando entre 1954 e 55 sua obra máxima, a trilogia O Senhor dos Anéis, que promoveu uma retumbante consagração ao seu autor. Foi reimpressa várias vezes, traduzida em mais de 45 idiomas, com vendas superiores a 150 milhões de cópias.
“O Senhor dos Anéis” foi desenvolvida numa atmosfera ficcional diferente de sua obra anterior. Tolkien insere um grande número de personagens, alinha longas descrições repletas de detalhes, se preocupa com as referências exteriores para os acontecimentos de “O Hobbit” e  “O Silmarillion” (na época ainda desconhecido do público), sendo talvez a maior fascinação da obra a enorme capacidade do autor de criar e desenvolver diversos planos narrativos ao mesmo tempo.
Em 28 de Agosto de 1973 Tolkien passou mal durante uma festa e foi internado com úlcera e hemorragia. No dia seguinte diagnosticaram uma infecção no pulmão, e cinco dias depois, nas primeiras horas de um domingo (2 de Setembro de 1973), aos 81 anos, Tolkien morreu em solo inglês. “Eu próprio sou um hobbit, em tudo, até no tamanho. Eu amo jardins, árvores e o campo sem máquinas. Gosto de fumar cachimbo, de comer modestamente, ir para a cama tarde e acordar igualmente tarde, e não viajo muito”, explicou o autor, que reinventou a fantasia literária no século XX. A influência desse escritor na arte literária, cinematográfica e teatral talvez tenha poucos paralelos no século XX e XXI. Tolkien mostrou que os efeitos especiais já existiam nos livros antes de serem criados pelo cinema. Não existiria, por exemplo, um “Avatar” se antes não tivesse existido J.R.R. Tolkien. Ele mostrou que a imaginação literária já era 3D há muitos anos.
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Kelly de Souza é jornalista colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura. 
créditos: Blog da Cultura

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