quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

fOTOGRAFIA

Aqui é o fim do mundo

Amazônia, fotografada por Claudia Jaguaribe, está entre as obras que dimensionam a noção de extremo, em exposição em Paris

Paula Alzugaray
Autour de l’extrême/ Maison Européene de la Photographie, Paris/ até 30/1/ 2011
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IMAGENS MUTANTES
“Igarapés”, série fotográfica de Claudia Jaguaribe, busca representar uma
natureza em constante mutação
 
De Marco Polo a Pierre Verger, passando por Hans Staden e Paul Gauguin, o europeu sempre perseguiu a ideia da superação de limites e sempre se pautou por sua vontade de conquista – intelectual, espiritual ou militar – de outros mundos. A mostra “Autour de l’Extrême”, na Maison Européene de la Photographie (MEP), em Paris, revisita essa longa tradição. Com fotos de 76 autores, pertencentes à coleção da instituição, a exposição explora a noção de extremidade em sua amplitude máxima, apontando para as dimensões que ela assume em campos tão diversos quanto a política, a sociedade, a estética, a cultura e a ciência.

A exposição é dividida em cinco áreas. No campo dos “Territórios Extremos”, a série “Igarapés”, da artista brasileira Claudia Jaguaribe, representa extremidades do mundo tão míticas e distantes para o europeu quanto o deserto do Saara, visto pelo francês Raymond Depardon, ou mesmo um pueblo do Novo México visitado pelo norte-americano Ansel Adams. Mas a Amazônia de Claudia Jaguaribe não é tão real nem tão perene quanto a imagem do astronauta Edwin “Buzz” Aldrin acenando para a câmera de Neil Armstrong, após deixar marcados os primeiros passos da humanidade na Lua – aquisição recente da coleção MEP. A mata molhada nas fotos e vídeos da artista brasileira está em permanente mutação e, diante dela, perdemos qualquer sentido de orientação. “O meu trabalho atravessa esta fronteira entre o documental, o simbólico e talvez o fantástico. São fotos documentais tratadas de forma que pareçam uma visão de algo quase impossível. De um ‘extremo’ que só a natureza traz”, diz Claudia Jaguaribe, que está entre os oito brasileiros com trabalhos na exposição.
O carioca Rogério Reis tem exposta a série documental “Surfistas de Trem”; Rodrigo Braga expõe a série “Comunhão”, em que se metamorfoseia em um bode; Miguel Rio Branco comparece com “Dog Man, Man Dog”; Claudia Andujar representa o transe em uma tribo ianomâmi; Vik Muniz reproduz imagens tornadas universais pelo fotojornalismo. Participam ainda Alberto Ferreira e Sebastião Salgado, que tem expostas fotos de trabalhadores nos campos petrolíferos do Kuwait. Eles estão distribuídos ao longo das muitas extremidades da exposição.
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LIMITES DO VISÍVEL
No campo da fotografia científica, a Lua vista por
Neil Armstrong é um dos extremos máximos

O conceito de “extremo” é usado como um filtro para observar as obras da coleção, um dos mais importantes acervos de fotografia moderna e contemporânea da Europa. Mas a curadoria de Milton Guran e Jean-Luc Monterosso peca ao querer estirar ao máximo um conceito que se define justamente pela finitude, pelo limite. A vontade de “explorar todos os territórios do mundo visível” – como explica o folder da exposição – conduz a um resultado extensivo, mas insatisfatório. Saltos tão radicais como aquele que se dá entre o corpo grotesco, de Cindy Sherman, e a estetização do horror, em Salgado, evidenciam critérios curatoriais mais quantitativos que qualitativos. Assim, a experiência do espectador em cada campo da mostra torna-se tão rápida quanto superficial. E a dimensão da sala dos “Territórios Extremos” não dá conta da grandeza inabarcável da mata, do deserto e do universo.

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