Para conseguir a melhor imagem, os fotógrafos da NATIONAL se arriscam nas mais densas florestas e enfrentam predadores, doenças e desastres naturais
por Anderson Estevan Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ONLINE
Fotografar animais venenosos não é algo tão incomum para os fotógrafos da NATIONAL GEOGRAPHIC. Nesses encontros perigosos, nove fotógrafos da revista sofreram mordidas venenosas, um foi atacado por uma cobra cuspidora e outro encontrou o bicho em sua mochila de viagem. Os números foram obtidos em levantamento feito com 45 fotógrafos da NATIONAL GEOGRAPHIC para saber quais foram as suas maiores dificuldades em campo.
Imagine estar a menos de 10 metros do maior predador da América, a temida onça-pintada. Luciano Candisani esteve de frente com a fera em setembro, em uma viagem pelo Pantanal, e confessa que teve medo. “Eu estava com a câmera posicionada e o vento foi empurrando o barco lentamente para a margem. Quando ele tocou a terra, ela se levantou e ficou nos olhando enquanto eu tirava as fotos. Se ela quisesse, ela poderia ter pulado no barco”.
Viajar o mundo todo, conhecer diversas culturas, espécies raras de animais e plantas e fotografar nos quatro cantos do globo. Este é o sonho de muitos leitores e fãs da NATIONAL GEOGRAPHIC, que esperam desfrutar da vida cheia de “glamour” dos grandes fotógrafos. No entanto, as coisas não são bem assim e muitos dos profissionais já passaram por poucas e boas para entregar as fotos que saem todos os meses nas páginas da revista.
Em alguns casos, os acidentes no trabalho podem ser fatais. O especialista em fotografia submarina Wes C. Skiles, veterano colaborador da NATIONAL GEOGRAPHIC, morreu enquanto participava de uma expedição de pesquisa de vida submarina. Depois de completar uma das mais difíceis missões de exploração de sua carreira,
nas cavernas submersas em Bahamas, e sair ileso, ele foi encontrado inconsciente nos mares da costa da Flórida, próximo a sua casa, em julho de 2010.
O fato causou uma comoção entre os fotógrafos da revista, que realizaram, através do site do grupo de fotógrafos The Photo Society, um levantamento com os principais fatos negativos que aconteceram com 45 fotógrafos entrevistados (
http://thephotosociety.org/reality-check/). Malária, diarreia, acidentes e hipotermia são alguns dos problemas que eles enfrentaram ao longo da carreira. Roubos, ataques de animais e queimaduras também foram citados na pesquisa.
Enquanto fazia um trabalho na Amazônia, o fotógrafo Adriano Gambarini teve que se cobrir para se proteger das abelhas
O fotógrafo e blogueiro da NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL, João Marcos Rosa conta como foi o maior sufoco de sua carreira. Ele passou por apuros a 40 metros do chão para conseguir fotografar as harpias na Reserva Florestal de Imataca, na Venezuela.
Além do medo de altura, a chuva aumentou o risco de um eventual acidente. ”O tempo começou a fechar e uma nuvem cinza-escuro ocupou todo o céu. Foi o tempo de proteger o equipamento e vestir a capa de chuva. Os ventos fortíssimos derrubaram árvores imensas, bem próximas a que eu estava pendurado, e eu só imaginava quando seria a minha vez”, contou.
Apesar dos riscos, Rosa saiu ileso e conseguiu capturar os hábitos da ave. Ele jurou não subir mais em árvores, mas quebrou a promessa na manhã seguinte. Desde então subiu mais de duzentas vezes em árvores gigantes para continuar a documentar as harpias até hoje.
Em outra ocasião, Rosa permaneceu por quase uma semana acampado na Ilha Queimada Grande, a 30 quilômetros da costa de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. O lugar tem a maior densidade de cobras por metro quadrado do mundo. E o único acesso ao local é somente por rochedos, já que não existem praias na ilha. “Desembarcamos na ilha com a maior calma, já que o mar estava tranquilo. Mas já na primeira noite, uma frente fria trouxe uma tempestade que danificou e encharcou quatro das seis barracas da equipe. O pior de tudo é que foi de madrugada. No outro dia continuou o mau tempo e o mar que estava calmo na chegada, batia nas pedras com violência, nos fazendo imaginar quando teríamos a oportunidade de sair daquele inferno”.
Além de encontrar uma cobra a menos de 10 metros do acampamento, toda a equipe só conseguiu embarcar novamente dois dias depois, por conta do mar bravo. Rosa também prometeu que nunca mais voltaria, mas recentemente voltou ao local, para produzir uma reportagem para a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL.
Acampamento na Amazônia: Gambarini teve de caçar para comer e mal tinha água para beber
Adriano Gambarini, também fotógrafo e blogueiro da NATIONAL, acredita que as dificuldades são meras consequências na busca de uma boa foto. Para ele, os apuros são algo como uma obrigação, uma missão. Após permanecer por mais de um mês exposto em plena floresta amazônica, o fotógrafo fez de tudo para conseguir sobreviver na floresta. “Águas paradas dos igarapés que precisaram ser bebidas para saciar a sede, animais caçados para matar a fome por falta de outra opção alimentar, tudo isso são meros temperos de uma vida dedicada a documentar este mundo maravilhoso”, disse.
Nas suas andanças pela Amazônia, Gambarini sofreu com três diferentes amebas, que consumiram 10 quilos de seu peso. Na região, ele também ficava tenso com a exposição aos mosquitos transmissores da leichmaniose.
Numa outra expedição, o helicóptero usado como transporte da equipe para as bases dentro da floresta caiu a menos de 30 metros de distância de seu grupo. Mesmo sem ninguém ter se ferido, Gambarini nunca se esqueceu do episódio.
Pendurado a mais de 30 metros de altura e coberto com uma pesada lona verde, Gambarini esperou por quase quatro dias para registrar o pato-mergulhão da Serra da Canastra. Enquanto aguardava, imóvel, carrapatos colaram em sua barriga. “Eu pretendia documentar a documentar a fêmea saindo com filhotes recém-nascidos, mas que ninguém sabia ao certo quando isto ocorreria. Ou seja, de cara eu já estava com dois problemas: como ficar parado, e camuflado, na frente do ninho numa encosta impossível de permanecer em pé por um longo período? E, quando a fêmea sairia do mesmo?”
Na mesma mesa em que Gambarini almoçava, na Amazônia, pesquisadores retiravam as tripas dos animais
Até o momento decisivo, quando escutou um barulho quase imperceptível que vinha de dentro do ninho, ele se posicionou e realizou as fotos no momento em que a fêmea saia com os filhotes protegidos entre as suas patas. ”Foram cerca de 40 horas de permanência, pendurado na corda e sob o calor sufocante dentro da camuflagem, para não mais que 3 minutos para fotografar aquela inédita e fantástica cena. Quantas fotos? Cerca de 30 cliques. Quanto prazer? Imensurável”.
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